domingo, 14 de novembro de 2010


PÉ DE LEMBRANÇA

Foi o tempo que diminuiu os espaços ou minha memória que os aumentou? É que quando eu era criança parecia que o pequeno quintal nos fundos da minha casa era um mundo inteiro de tão grande...

Lá, além da gangorra que o Tio Piu fez pra gente brincar, tinha muitas plantas que o quintal cimentado já não suporta mais. Apesar de não serem todas cultivadas simultaneamente, minha memória registrou enormes pés de couve-palácio, almeirão, taioba, cana-caiana, figo, um pezinho de café, milho, mamões, goiaba vermelha, a inconfundível manga-ubá e algumas mais...

Além dessas, e, sobretudo, havia o pé de jabuticaba. Ainda há. O sobrevivente. Um guardião de histórias. Um espectador silencioso de mudanças. Foi meu pai quem plantou. Dizia que quem plantava jabuticaba não colhia (só pra contrariar, o pé daqui de casa deu três bolinhas pretas antes dele partir, matematicamente divididas entre ele, minha irmã e eu).

Vinte e tantos anos depois, ainda fico admirado com essa árvore que ritualisticamente, todo ano, pipoca seu caule com flores brancas muito perfumadas e depois com os frutos pretos muito doces. Fascinante!

Hoje, olhando a jabuticabeira no meu pequeno quintal, fiquei pensando que a memória aumenta espaços sim. Que deve ter uma caixa de lápis de cor de 36 que faz as lembranças afetivas parecerem mais coloridas. E que pega a gente distraído, “panhando” jabuticaba no pé, pra trazer à tona algumas lembranças doces...

7 comentários:

  1. adorei! tb tive um pé de jabuticaba na infância! eta fruta doce e cheia de recordações!
    beijos, saudades!

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  2. Pensei vários dias para escrever o comentário sobre este texto, mas tá dificil; ainda não consegui traduzir em palavras as lembranças que ele me traz!

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  3. Ah, Margarida! Que bonitinho! Esse post foi pra você tb!

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  4. Simplesmente me vejo atrás dos seus olhos ao ver isso. Muito parecido com as minhas memórias de criaçã.. crescer é confuso! hahah

    Tá de parabéns como blog!
    Ganhou um fiel leitor!

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  5. Nunca tive uma jabuticabeira, mas a velha vizinha tinha. Jabuticaba de vizinha é mais emocionante. O que doia era o muro que tinha uns caquinhos de vidro. A jabuticaba valia o desafio !
    Paulo parabéns pelo seu lirismo mesclado em pura prosa poética !!!
    Anônimo não. EuSó.

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  6. Caro Paulo: Adorei este texto, peço licença para reproduzi-lo em meu flickr. Semana passada reuni aqui no meu ateliê 19 pessoas que vieram bordar por três dias com MARILU DUMONT, da família de Pirapora que borda e já ilustrou livros de Manoel de Barros, Ziraldo e outros.
    O tema escolhido foi os quintais e a necessidade de resgatarmos estes espaços na memória e na concretude. Saíram desenhos lindíssimos, resgate de memórias de infância e projetos de futuro para os filhos e netos das participantes. Jaboticabeiras, pés-de-alface- balanços e cirandas surgiram mágicamente no tecido, ávidas para receberem as cores das lembranças e se tornarem vívidas. Um grande abraço e Feliz Páscoa para você e sua família. JACI, São Paulo

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